Sem um grande protagonista – Basquete do Flamengo fracassou na falta de regularidade em quadra

Quando o Flamengo no início dessa temporada apostou alto em jogadores nacionais com potencial de agregar no coletivo e em estrangeiros que tinham experiência em atuar juntos foi se dado o crédito de acreditar e esperar que o resultado final em quadra fosse satisfatório. Mas a realidade foi muito abaixo do esperado e um fator ficou evidente – a falta de um protagonista mais consistente e que pudesse colocar a bola debaixo do braço e decidir jogos com pesos importantes no planejamento do clube.

O Garrafão Rubro-negro faz uma análise crítica sobre os jogadores que fizeram parte do elenco nessa temporada e também destaca na sua visão os erros da diretoria na montagem do plantel.

Armadores argentinos destoam tecnicamente em quadra e saudosismo do torcedor acaba por ter coerência

Penka Aguirre foi um dos primeiros reforços anunciados pelo Flamengo nessa temporada e o clube acreditou fielmente como também a imprensa especializada que o experiente armador argentino poderia repetir a boa regularidade que teve na época de San Lorenzo. Mas como tudo na vida, os anos passam e o erro foi acreditar que sempre vai ocorrer o esperado, quando a verdade é que o desempenho de Aguirre já na época de Regatas Corrientes, Peñarol e Fuerza Régia já não era de um protagonismo ou boa regularidade técnica, pelo contrário.

Aguirre manteve nos seus últimos clubes um bom volume de assistências e quando teve minutagem no Flamengo também contribuiu nesse fundamento. Mas quando o rubro-negro precisou dos arremessos de Aguirre, não pode contar. Quantos adversários do Flamengo no NBB e na BCLA acabaram por pagar o arremesso de Aguirre nos três pontos já sabendo seu aproveitamento baixo? Quando esteve em quadra, em vários momentos de rotação ofensiva, Aguirre nos arremessos foi menos um para o Flamengo em quadra.

José Vildoza chegou ao Flamengo com as credenciais e méritos de ser um dos nomes da seleção argentina nas últimas temporadas na armação e com potencial de protagonista dos clubes que passou anteriormente. Mas comparado a Balbi e Laprovittola, dá pra contar nos dedos quantos os jogos o Pepe Vildoza teve de fato um protagonismo com a camisa do Flamengo. E clareando os fatos dá até para afirmar que as quartas de final e a semifinal da Copa Super 8 foram os seus melhores momentos.

Mesmo reconhecendo a alta rotação da equipe que pode ter prejudicado a confiança de Vildoza no seu próprio basquete, mas também é preciso falar que quando teve oportunidade, minutagem em jogos grandes, arremessos com certa tranquilidade para ser uma das estrelas do time, Vildoza não teve aproveitamento.

E o retorno de Ricardo Fischer deixou evidente como o rendimento dos argentinos ficou abaixo do esperado. Fischer tentou na medida do possível corresponder a lacuna deixada pelos argentinos e ter uma boa atuação nas assistências e pontos em quadra.  Fischer foi uma solução emergencial para um problema aparente na formação do elenco que foi detectada durante a temporada. Cabe agora ao clube como um todo analisar se o já experiente armador merece uma continuidade por mais uma temporada.

Martin Cuello mostra que é regular tecnicamente e pode ter uma evolução com o clube numa possível segunda temporada

O único estrangeiro que de fato foi regular nessa temporada pelo Flamengo – o argentino Martin Cuello. Cuello praticamente repetiu todas as suas médias no Flamengo comparada a do Instituto que foi campeão argentino na temporada anterior. Essa média seja em pontos, assistências e rebotes. Ter um jogador estrangeiro que tenha uma média superior a 10 pontos por jogo acaba sendo interessante quando você acaba por planejar o potencial que um time pode ter no seu ataque. O que não pode é os demais estrangeiros praticamente forem muito abaixo e deixar somente um gringo para carregar todo o piano ofensivo do time. Basquete não é tênis, é jogo coletivo.

Gui Deodato com altos e baixos pelo time na sua primeira temporada no Flamengo

Com os méritos de ter sido o MVP da Copa Super 8 da temporada passada, Gui Deodato chegou ao Flamengo com a expectativa que pudesse ter um protagonismo ainda maior que teve na equipe mineira. Mas a média de pontos em quadra ficou bem semelhante a que tinha pelo Minas e também isso se deve ao menor volume de jogo que passou a ter e se adaptar ao sistema de jogo do treinador do Flamengo.

O seu melhor momento com a camisa do clube foi a final da BCLA mesmo com a derrota diante de Franca, mas mostrou aproveitamento e personalidade diante de um Pedrocão lotado e evitou uma derrota ainda maior para o time de Franca.

Gui pode ser útil em variações ofensivas e defensivas que um time pode ter, mas também se mostra fundamental que o elenco tenha certo equilíbrio em quadra para potencializar ainda mais as virtudes do seu jogo. Pensando em jogador de conjunto, rotação, poderia ser um nome que poderia ser melhor aproveitado pelo Flamengo numa próxima temporada.

Temporada rubro-negra deixou evidente a necessidade de rejuvenescer o futuro elenco e encerrar ciclos

A idade pesa para todos os profissionais sejam eles esportistas ou não. E quando você é um atleta de uma modalidade como o basquete, a idade cada vez mais avançada acaba por pesar em quadra quando o time não tem um equilíbrio tático e técnico suficiente a ponto de preservar em alguns momentos dessas peças.

Em jogos contra o Bauru, Franca, Minas e mais recentemente contra o São Paulo, quantos os jogadores adversários souberam se aproveitar do atraso na velocidade de marcação de jogadores da posição 4 e 5 para castigar a defesa rubro-negra que chegava sempre com certo atraso? Quantas trocas equivocadas na marcação acabaram por favorecer o ataque rival?

Tudo precisa ser repensado, respeitando claro que esses jogadores puderam e fizeram pelo clube na história, isso não será apagado, mas a necessidade de entender que pode ter chegado o momento para o final de certos ciclos.

Gabriel Jaú foi o jogador nacional mais regular dentro do elenco do Flamengo

Sabendo que ainda é jovem e ainda comete seus erros bobos e faltas que poderiam ser evitadas, o fato é que numa temporada tão abaixo do esperado do basquete do Flamengo, Gabriel Jaú foi um reforço que correspondeu dentro de quadra. Teve uma boa média de pontos mesmo com a minutagem inferior a que teve na época de Bauru e acabou por ajudar o time rubro-negro em jogos dos playoffs contra o Bauru, sua ex equipe, e mesmo na varrida diante do São Paulo, evitou um desastre ainda maior no placar.

O amadurecimento técnico, mental e tático de Jau pode ser importante quando você começa a desenhar uma possível espinha dorsal de um novo elenco. Existe potencial ainda pra ser maturado e lapidado nesse jovem jogador.

O ônus de um sistema – A descaracterização na identidade de jogo de alguns jogadores tendo como base uma convicção na maneira de jogar

Quando na temporada passada, ocorreu uma mudança no estilo de jogo do jogador Rafael Mineiro colocando-o mais na função de um ala praticamente todos se deram o crédito da dúvida e de esperar que a modificação pudesse dar certo. E o que se viu foi uma grande oscilação no rendimento físico do jogador em toda a temporada passada e sua queda de produção defensiva.

E nessa temporada que acabou com a eliminação diante do São Paulo, o que podemos falar sobre qual era a função de Rafael Mineiro em quadra? O que se viu foi um jogador novamente abaixo fisicamente e quem acompanhou os jogos seja torcedor e mídia especializada ficou sem entender qual era de fato a sua posição em quadra na maioria dos jogos – ala, ala-pivô ou pivô? Novamente se pode perceber uma queda na sua produção defensiva em quadra, um jogador que novamente voltou a valorizar o carro chefe do sistema – os três pontos.  Dar a oportunidade do seu jogador evoluir ofensivamente é sempre válido, mas quando isso acaba por descompensar em algum momento seu condicionamento físico e reduzindo sua intensidade defensiva como novamente ocorreu serve de alerta.

E embora seja necessário reconhecer a boa temporada de Martin Cuello, um aspecto precisa ser levantado de como o jogador acabou alterando sua forma de jogar nos playoffs do NBB atendendo sempre o que o sistema de jogo pedia. Cuello na Argentina sempre buscou variar arremessos dentro da área pintada e do perímetro e foi dessa forma que foi eleito MVP das finais com o Instituto.

E o que se viu na série principalmente contra o São Paulo foi um Cuello que teve parte do seu jogo descaracterizado e que reduziu sua confiança nos arremessos e virou um jogador que sempre buscou mais um passe extra, espaçar a quadra buscando sempre o seu próprio arremesso de três ou de outro companheiro nesse mesmo fundamento. Isso é muito pouco quando você tem um jogador técnico como ele a seu favor em suas mãos.

Se tudo que foi planejado dentro de um sistema como a metodologia de valorizar o arremesso de três como também a modificação tática de jogadores acaba por dar certo no final das contas é justo reconhecer o mérito do acerto. Mas quando o repertorio nessa temporada em alguns jogos acabou ficando limitado a esse fundamento e o time sentiu a falta de confiança e a ansiedade em não ter êxito no aproveitamento, cabe a reflexão do sistema que foi implantado no decorrer do ano e o que pode ser ajustado à frente.

Renovações equivocadas e a não correção de rota sobre isso durante a temporada

Existe a pessoa que assina, que monitora, que analisa, que indica as renovações que deverão ser feitas e isso acaba sendo no final uma decisão em conjunto de toda a diretoria e comissão técnica. E o fato é que a renovação do pivô Vitor Faverani foi um grande equivoco nessa temporada. Foi se dado o crédito ao pivô que ele poderia ter uma sequencia de jogos no começo da temporada, mas o que se viu foi o jogador não ser relacionado para alguns jogos e ficar fora de algumas viagens de jogos pelo NBB e pela BCLA.

A dúvida é se até o final do turno do NBB se viu que a renovação de Faverari e a sua utilização de fato em quadra não seria a esperada, com todo respeito ao jogador, mas não poderia ter sido buscado uma troca dele por outro jogador no mercado para tentar suprir a carência de ter mais jogadores que pudessem atuar nessa posição?

E um fator que deixou evidente que o elenco precisava ter um pivô com outras características de jogo foi quando no Final Four da Champions League Américas ocorreu a contratação do colombiano Andres Ibarguen. E uma das justificativas na contratação do colombiano foi que o elenco precisava de um pivô que soubesse correr toda a quadra, ou seja, ser ágil no processo de transição.

E outra renovação que pode ser dita que foi equivocada foi a do ala mexicano Luke Martinez. A minutagem praticamente foi semelhante do mexicano em suas três temporadas no clube e o seu rendimento no aproveitamento dos arremessos de três como também em outros fundamentos como assistências e bolas recuperadas só teve uma redução a cada temporada.

É do conhecimento de todos e divulgado até por esse veiculo de comunicação, a lesão que o mexicano teve na segunda parte da temporada passada e que teria prejudicado o seu rendimento em quadra. E a expectativa é que nessa terceira temporada a sua consistência e regularidade dentro de quadra fosse próxima ao desempenho que ele teve na primeira temporada na qual foi muito importante naquele período na conquista da BCLA e do NBB.

E no mesmo caso do pivô, fica a duvida se antes da Copa Super 8 também não poderia ter ocorrido a troca do mexicano com algum outro estrangeiro. Luke Martinez em jogos de maior apelo teve uma média de pontos pequena e quando temos em vista a presença de um estrangeiro no elenco é que ele faça de fato a diferença e seja constante, e não que seja apenas mais um.

Agora fica a expectativa pelo novo elenco que já começa a ser analisado e buscado para a próxima temporada e que possa ter mais protagonistas de fato para retomar o clube ao seu trilho que a torcida assim o espera.

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1 comentário Adicione o seu

  1. Velho Mengo disse:

    Vocês não falaram do desempenho do Olivinha. É certo que um time pode prosperar se tiver um armador inteligente, rápido e eficiente. Outra coisa: a dispensa do Marquinhos. Eu tinha a certeza que ele levaria o São Paulo a uma situação de destaque, o que demonstra que foi um erro sua dispensa. Vez por outra o Flamengo toma essas decisões amadoras.

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