O esporte mundial vem lidando no dia a dia de como modificar seu planejamento conforme o andamento do coronavírus. E o basquete do Flamengo não está fora disso e já sofreu alguns impactos em razão dessa pandemia. O blog Garrafão Rubro-Negro realizou uma entrevista exclusiva com Diego Jeleilate, gerente do basquete do Flamengo, para abordar todo o impacto no planejamento na modalidade, a ajuda que o clube tem dado a base e alguns detalhes já da próxima temporada.
Diego Jeleilate – gerente de basquete do Flamengo
Primeiramente, Diego Jeleilate, ninguém e nenhum clube estava preparado para lidar com uma pandemia como essa e as dimensões que ela ganhou no esporte, principalmente aqui no Brasil. Falando do impacto que ela causou e vem causando, como tu analisaria no basquete brasileiro seja na categoria adulta e base? Poderíamos dizer que a Covid-19 proporciona um aprendizado diário no basquete do Flamengo?
“O impacto é grande, é imenso, é imensurável por sinal. Para nós, são duas questões além das financeiras e da saúde: a glória esportiva, que é da conquista, e o reconhecimento máximo, que são os títulos. Estávamos numa alegria muito grande depois da conquista do Brasileiro Sub-21 de forma invicta e daquela semifinal da Champions League, uma virada histórica no Maracanãzinho, e tínhamos uma expectativa de estarmos no ápice de performance, jogarmos uma final e ganharmos a primeira edição da Champions League Américas. Na base, disputar a LDB dessa temporada em alto nível, assim como o Brasileiro Sub-18 e os Estaduais da categoria também em alto nível, talvez jogar o Campeonato Carioca Adulto com a equipe sub-21. E aí veio essa paralisação, algo que ninguém teve antes a experiência, e acabou impactando a gente de várias formas. Impacto financeiro sim, e de saúde também, que nos preocupam. E tivemos que interromper os treinamentos quando os jogadores estavam no seu pico de performance, os meninos do Sub-21 estavam voando, e tivemos que parar tudo, com os atletas tendo que ficar de 3 a 4 meses em casa. A minha sensação mais frustrante é não ter a glória da conquista, do título”
Nesse período da pandemia acabamos presenciando os jovens da base do basquete rubro-negro com grande saudade da prática do esporte. Como está sendo o seu contato com esses jovens nesse período? E aproveitando, qual a importância do CUIDAR na sua opinião nesse momento de oferecer a esses jovens algum suporte?
“A saudade, a ansiedade e a vontade de praticar é enorme, a gente está trabalhando isso com a nossa base, o Flamengo teve uma preocupação muito grande em manter seus jovens engajados, por mais que tivéssemos tomar algumas medidas administrativas, a gente mantém profissionais atuando junto com esses atletas, para que não esfrie nada essa vontade de jogar basquete. Que a gente torne essa saudade e essa vontade para voltarem com mais engajamento e mais vontade. O Flamengo tem alguns diferenciais, um diferencial muito grande na gestão esportiva, tem uma direção executiva, um diferencial na escolha dos profissionais que permeiam todas as modalidades esportivas e um desses diferenciais é o Cuidar que é um centro de referência que os atletas conseguem ter um suporte mesmo nesse período. Isso é muito diferenciado. Os atletas tem contato com o médico caso seja necessário, tem nutricionistas e psicólogos atuando em reuniões periódicas e os técnicos inovando ai, participamos de um desafio com profissionais da Itália, uma região que sofreu muito com a Covid-19. Todo mundo tem que ter um diferencial e se tem um diferencial no esporte olímpico do Flamengo, o Cuidar é um deles.”

Quando falamos de esporte olímpico, às vezes nos esquecemos do papel social que os clubes tem quando investem em modalidades e acabam dando a oportunidade desses jovens, residentes de comunidades do Rio, terem a oportunidade da prática esportiva. Você poderia falar como é essa preocupação do Flamengo no dia a dia e falando especificamente do basquete, podemos afirmar que a base do clube tem exemplos desse lado social?
“O projeto do Flamengo é esportivo acima de tudo, mas ele nunca deixou de ser um grande projeto social. A gente tem como dados que 45 % dos nossos atletas vivem em regiões de vulnerabilidade. A gente tem 65 % dos atletas sem plano de saúde. Então pra gente nunca foi dissociado da questão da formação dos atletas com a questão social. Pelo contrário, nossas premissas se balizam em formar, incluir e desenvolver eles tanto socialmente e esportivamente todos os nossos atletas. O Flamengo está super preocupado com tudo, tanto que não deixou de arcar com as ajudas de custo, principalmente na base, tivemos vários programas de ajuda até com os atletas olímpicos, a gente não precisa de marketing para citar essas coisas, eu nem gosto, mas tivemos uma ajuda mutua principalmente dos atletas profissionais e de executivos do clube. A gente tentou não desamparar ninguém. “
O NBB terminou sem a conclusão da temporada e sempre é clichê dentro do esporte afirmar que o playoff é outro campeonato. Quando se fala em planejamento futuro e já visando uma temporada seguinte, tu acreditas que o playoff pode ter um impacto grande nesse planejamento ou ele, o playoff, só vem a confirmar uma análise interna que é feita diariamente no decorrer da temporada?
“O impacto no playoff a gente sabe que é uma competição diferente, mas para a gente no Flamengo sabemos que contamos com grandes atletas e que estão acostumados com esse tipo de situação. Se outros jogadores não tiveram a oportunidade de jogar um playoff do NBB, a gente estava jogando uma semifinal de Champions League e eu acho que o time estava preparado e no caminho, pronto para os desafios. E falo mais, para nós do Flamengo, o playoff é muito mais competitivo do que um jogo único. Um jogo único a gente está mais suscetível a uma derrota. Já no playoff, a gente perder três jogos já achamos que é mais difícil. Então isso é uma das forças do Flamengo. O Flamengo é time de título e está acostumado com playoff. Para nós o momento que estávamos vivendo no NBB, a gente estava encaminhando para a conquista do título. Logico que respeitando as demais equipes, mas cumprindo e seguindo o nosso planejamento.do jeito que a gente previa.”
O mundo e o esporte não sabem o que irá ocorrer pós pandemia. No basquete, você acredita que será fundamental uma união ainda maior de clubes, federações. Confederações e jogadores para a modalidade sair com o menor desgaste técnico e financeiro após o coronavírus?
“Em relação a essa união, independente da pandemia, eu sempre fui um cara que acreditei nisso. Quem perde com a desunião é somente o basquete. Tem que ter a competividade sim, a rivalidade sim, mas no final o propósito de todos os envolvidos, do ecossistema, tem que ser o mesmo. Não em razão somente da pandemia, isso será mais necessário agora, a gente vai ter que estar junto pensando nas soluções. Eu gosto de salientar que a gente tem que pensar na solução, mas não pode nivelar todo um sistema por baixo, a gente tem premissas e necessidades que são diferentes. As vezes a necessidade de um time é uma coisa e a do Flamengo será outra. E como nosso objetivo dentro do Flamengo é vencer todas as competições que disputar no adulto, então eu acho que a gente tem que ter dialogo, sabedoria, mas a gente não pode pensar e jogar tudo pra baixo.”
E para finalizar ainda sobre esse mundo pós-pandemia, o Brasil sofre com uma alta valorização do dólar e quando se faz um planejamento no basquete sobre a contratação de jogadores estrangeiros isso acaba pesando. Como enfrentar esse dilema quando é feito esse planejamento? E você hoje seria favorável à manutenção de 4 estrangeiros no próximo NBB ou voltaria ao que era antigamente?
“Sobre a economia, está uma situação bem imprevisível. A gente não sabe de fato o que pode acontecer. O dólar explodiu. Logico que o Flamengo pela responsabilidade financeira que sempre teve, possui alguns gatilhos e isso nos permite que a gente não fique tão vulnerável a essa alta repentina do dólar. E com certeza estamos repensando o nosso planejamento. Já temos estratégias para continuar com atletas estrangeiros, mas também estamos convictos que todo mundo vai perceber que a realidade será diferente. O mundo será outro daqui pra frente e terão que se adaptar a um orçamento de uma equipe brasileira. Qualquer estrangeiro que pensa que virá para o Brasil e se dar bem nesse momento, terá que repensar nesse quesito. Acho que o mundo inteiro conforme eu tenho conversado com os agentes está bem ciente dessa mudança.de cenário. O Flamengo já está trabalhando no seu planejamento. E o nosso planejamento é interessante falar que ele não é somente de uma temporada, a gente tem um planejamento para três e quatro temporadas. Claro que o nosso planejamento a gente está suscetível a agir corretivamente, mas não perderemos o nosso foco, mesmo que tenha uma normal redução de orçamento, a gente já está esperando isso, a gente não vai deixar de ser competitivo. E com relação a quantidade de estrangeiros no NBB ainda eu sou favorável aos quatro jogadores. Se tiver uma redução brusca de equipes no NBB eu baixaria para três novamente. Eu achei que os estrangeiros da última temporada foram de boa qualidade e ajudaram no nível técnico da competição. E quando eu falo isso eu gosto de deixar bem claro que eu não quero tirar espaço de um jogador brasileiro. O Flamengo quando traz atletas estrangeiros ele quer se equiparar internacionalmente as demais equipes. Eu gosto de dar exemplo que eu já joguei uma Liga das Américas com a minha equipe tendo um estrangeiro e o adversário com seis estrangeiros. Isso aí fica desproporcional na medida. Quando o Flamengo fala em quatro estrangeiros, ele fala numa equiparação a nível internacional e não a nível doméstico. Se necessário for, a gente vai montar um time sem estrangeiros, mas um time competitivo. E se continuar do jeito que eu quero e que está na minha mente hoje, o time continuará contando com jogadores estrangeiros. Principalmente esses que estiveram com a gente nas últimas temporadas.”
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